domingo, 14 de março de 2010

A árvore da POESIA

Árvore da Poesia
JI/EB1 S. Miguel, Enxara do Bispo
Agrupamento de Escolas Armando Lucena, Malveira, Mafra


Gosto de saber que ainda há escolas em que se SONHA...

Gosto de saber que ainda há escolas onde, mais importante que - e para lá de - fazer reuniões intermináveis (em que se sai cansado, exausto e sem nada que nos acrescente, quer como pessoas quer como profissionais...), elaborar relatórios infindáveis (e muitas vezes inúteis porque, 15 dias depois, estão novamente a solicitar-nos os mesmíssimos dados que neles disponibilizámos...), preencher grelhas-padrão, para "uniformizar procedimentos" (parece que nos tempos que correm nos tranquiliza imenso que sejamos alegremente uniformes...) a PRIORIDADE é de facto "gastar as energias" para imaginar projectos com sentido, que envolvam alunos, docentes e auxiliares em tarefas educativas, formativas, em que a aprendizagem resulta de vivências, de percursos, de opções conscientes e devidamente concebidas...

Quero deixar aqui esta bela imagem-síntese de um percurso de sonho, de cooperação, de aprendizagem e de reunião de esforços à volta do Dia da Árvore e do Dia da Poesia.

Porque ainda há escolas onde se sonha! Ainda bem!

Eis o texto poético colectivo, que brota no tronco e se espalha no chão:

A Árvore Amiga

Era uma vez uma companheira
que tinha muito para dar:
frutos, flores e madeira
para a todos agradar.

Vivia na Enxara,
no recinto escolar.
Feliz é a sua cara
todos os dias, ao chegar

Os alunos, seus amigos
com ela queriam brincar
mas de todos, os preferidos
eram os que a sabiam respeitar!

Brincar, subir e usar
sem partir nem estragar,
ela ensina a partilhar
e a saber amar!

Sala Amarela do Jardim de Infância e sala do 4.º Ano, 1º CEB

Há dias assim...

Realmente, realmente, vivemos num tempo em que de súbito, ao virar de um gesto, nos damos conta de como nos deixámos afastar, no nosso quotidiano, de uma postura de reverência, de espanto, de gratidão para com o simples facto de estarmos vivos - mesmo se doentes, mesmo se infelizes, mesmo se fustigados por catástrofes...

De repente damo-nos conta de que existe algures em nós uma força viva, se calhar a mesma que faz cantar os regatos, lançar revoadas de passarada nos ares, que nos "tira do sério" e nos faz ESTAR, simplesmente estar, e esse momento, a consciência desse momento é uma vivência de plenitude.

Por agora é só, fiquem bem!

quarta-feira, 3 de março de 2010

Um pai em nascimento, José Eduardo Agualusa

Ao passar ontem os olhos pela montra de uma livraria, aquele livro chamou-me. Entrei e procurei-o, ansiosa de o ter na mão.

Agora, já de volta a casa e com a primeira leitura integral quase concluída, aconselho a que, sendo ou não sendo pais, o leiam.

Para muitos não será certamente uma primeira leitura, pois o livro é uma compilação revista e actualizada das crónicas que Agualusa escreveu, na sua maior parte, na Revista Pais e Filhos, há uns anos atrás, mas, quer seja uma re-leitura quer seja uma viagem inicial, será certamente um percurso enternecedor, que nos faz soltar umas boas gargalhadas, daquelas que nos saem quando aprendemos a rir de nós mesmos... Uma escrita que nos envolve em afectos, perguntas, perplexidades, deslumbramentos e oportunidades de ler sobre aquele "essencial que é invisível para os olhos"...

Comenta Laurinda Alves, que prefacia o livro: Agualusa escreve cartas aos filhos por nascer como quem inaugura um mundo novinho em folha (...); (...) sei que continua igualzinho ao que sempre foi. A única coisa que mudou (...) é que já não escreve crónicas sobre os primeiros tempos de vida dos seus filhos, mas continua a viver através deles, com a certeza de que "a infância é o que conhecemos mais próximo da eternidade".

Deixo-vos alguns dos excertos que me encantaram:

(...) não consigo compreender o que o meu filho diz, embora, pela convicção com que tagarela, seja possível supor que utiliza efectivamente uma qualquer linguagem primordial, aparentada com o idioma das aves, dos regatos e dos anjos.

O meu calendário está a chegar ao fim. Quando me sentar outra vez para escrever esta crónica, já serei pai.
Não tarda muito e acontece-me um neto.

Um filho leva-nos pela mão, como um pequeno cicerone, e dá-nos a ver o futuro: ali as maravilhas, acolá os monstros, e tanto os monstros quanto as maravilhas fazem parte do mesmo jogo - desafios a vencer com alegria.

Outra questão importante prende-se com a insistência da generalidade das mulheres nos excelentes benefícios de envolver os homens nas tarefas (...): dar o biberão, mudar as fraldas (...) porém insistem em controlar tudo. O jogo é delas e deixam-nos brincar um pouco, mas estão sempre de olho em nós. Deus, sugerem, explicou-lhes qual a temperatura correcta da hora do banho, a posição ideal para o bebé mamar (...). Assim sendo, podemos e devemos tratar dos bebés, mas cumprindo rigorosamente as instruções (...). Se nos atrevemos a protestar reduzem-nos a nada, invocando precisamente o mesmo argumento com que, durante séculos, as escravizámos: as mulheres é que dão à luz, produzem leite, foram preparadas pela natureza para cuidar dos filhos. Nós, os pais, somos, seremos sempre, mães amadoras.

Ver-te dormir - e como tu dormes, minha filha, com que talento! - repousa-me e regenera-me mais do que o meu próprio sono. Anseio por ouvir a tua primeira gargalhada. Sei que isso me fará ainda melhor. Não conheço som mais iluminado do que a gargalhada de um bebé.
Bem-vinda, pois, minha filha. Choveu há pouco. O céu está limpo.
O mundo pode agora começar.

Boa leitura!