quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Ler...


Gregory Colbert

Gosto da experiência de ler em voz alta.

Parece que não sou só eu...

Ler...


Menina a ler - Sarah Afonso

O silêncio dos livros (1)

O murmúrio dos livros

A conversa dos livros

A magia de ler

O aconchego da leitura

O desassossego de ler

O perfume de um livro

E o cheiro?

E o toque...

Desejos de tempos para leitura, magias de abrir um livro, conversas com livros pelo meio... para que do ano de 2010 cada um diga, a cada dia que passar, que vale a pena ser lido, folheado, rascunhado, sublinhado... Todas aquelas coisas que cada um vive a sós com os seus livros e que ninguém tem nada a ver com isso...

(1) O silêncio dos livros (inspire-se por aqui...)

Era uma vez...


Retrato da Rainha Nebto, filha de Ramessés II (19.ª dinastia)



Uma princesa...

Ou uma couve mágica...

Ou uma estrela que só dava brilho de dia...

Ou...

Uma das componentes que desde muito cedo funciona como um aliciante convite à imaginação, empurrando-nos para a (a)ventura de experimentar palavras que saiam de nós, é sem dúvida a imagem - seja o apelo da imagem interior, seja o apelo que nasce do encontro estético com a forma e a cor, na viagem que fazemos, pela mão dos pintores, ilustradores, artistas plásticos em geral, no mundo sem fim da linguagem plástica.

Para além do contacto com as ilustrações através do livro para a infância, que felizmente, de dia para dia, diversifica as propostas e traz às crianças a maravilhosa possibilidade de ver pelos olhos de outrém e de interpretar pelos seus próprios olhos, penso que vale sempre a pena ampliar o contacto das crianças com a imagem. Um contacto e uma experiência que pode aprofundar-se pela tentativa de "entrar" pela imagem dentro e com ela fazer texto, inventar histórias, contar um apontamento, partilhar um ponto de vista...

Enfim, a produção artística pela imagem é um manancial inesgotável a que podemos recorrer e explorar, procurando outras e sempre mais outras linguagens plásticas, viajando por culturas, viajando no tempo e atravessando civilizações, no intuito de pôr as crianças o mais precocemente possível em comunicação de leitura com a imagem. E, por consequência, em comunicação consigo mesma e com os outros, enriquecendo e comunicando o seu imaginário.

A Internet também nos pode dar uma boa ajuda neste campo. Sites como este são uma maravilha...

domingo, 27 de dezembro de 2009


E o que eles dizem com os pés dá impressão de serem coisas aladas, cheias de sabedoria.
Carlos Drummond de Andrade
Ver o mundo de pernas para o ar.

Era uma frase irreverente, sem dúvida, mas ultimamente lera e ouvira frases como esta com uma frequência que as tornava quase banalidade. No entanto continuou atenta às palavras: para ver de pernas para o ar era mesmo preciso deixar voar os pés – deteve-se nesta consideração, invadida por uma súbita vontade de se descalçar, uma imagem de dança, movimento leve, solto, uma inxplicável alegria a crescer-lhe pela planta dos pés explodiu em gargalhada na boca.

Então percebeu: a primeira coisa alada que acontecia no mundo ao contrário era a repentina e espontânea possibilidade de se rir, completamente cheia de riso e por isso plenamente cheia da sabedoria do humor.

O resto do dia correu-lhe bem.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Encontro de Natal



Era dia de Natal, tinha o olhar pousado na página virtual e, no mesmo gesto (imaginava) do músico que se senta a dedilhar ao piano, que abraça o violão ou que aflora trinados na flauta, repousado na música, deixava os dedos deslizar no teclado, num toque que lhe oferecia uma sensação de confortável identidade («escrevo», sentia, «e enquanto o faço estou mais atentamente comigo»).

«É surpreendente», continuava a linha do pensamento, «este exercício de escrita que vai revelando quem escreve a si próprio», dizia-se, num murmúrio por dentro de si, como se do acto de escrever se desdobrasse um mapa de orientação, para lhe tornar o presente mais real e o futuro mais azul…

Descobria, surpresa, que a experiência da escrita nascera da expectativa de que também seria para ser lida, e ganhar por isso uma existência exterior... Para alcançar algo mais que lhe desse colorido aos dias, que ajudasse a dar consistência ao seu viver, que a fizesse plantar-se de pleno nas coisas, tangível, autêntica...

A sua escrita ganhara vida. Por entre os tempos, os espaços, os acontecimentos da sua vida, era um estranho ser vivo que naturalmente resguardava, queria-o “não público” porque desde o início dera-lhe uma direcção precisa: «é para ti».

«Ficas, por isso, na fronteira entre o secreto e o íntimo», indicava à sua escrita. «Vives aí, apenas a uma vírgula de distância do “diário”. És teia de palavras, manta de sentidos, estendida na imensidão do traço ou do espaço». E quedava-se em silêncio, à procura de se ouvir e de aprender como era tudo (o mundo?) para além de si.

Relia o que escrevera e continuava: «Estás quase a tocar a fórmula da (antiga?) “carta de amor” – contudo és tão longínqua da paixão, configurada numa outra moldura. Permites que me revele. Permites que me dê. Acima de tudo deixas que ofereça o que me faz ser quem sou e fazes com que essa oferta seja despojada. Abres o meu olhar.»

Fechava os olhos e sabia que aquela escrita valia por ser acontecimento de comunicação, urgência de romper a solidão para alcançar a proximidade com alguém que fizesse sentido. Apenas isso.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

"Eclosão"




Porque está por aqui, para quem o quiser desvendar, o Natal...

Porque, de alguma forma, é tempo de eclosão, de sair de dentro alguma tentativa de estrela que nos ilumine e perfume o caminho...

Partilho aqui (à laia de prenda) este passarinho novo, com desejos de que, a partir deste Natal e pelo novo ano adiante, voemos na vida com asas renovadas, mesmo que por vezes nos sintamos como se a dar o primeiro voo para fora do aconchego do ninho...

Feliz Natal!

sábado, 21 de novembro de 2009

Surpresa... Descoberta... Recriar... Recrear-se...


“Estamos muito derrotados. A surpresa e a descoberta que a emoção proporciona foram anuladas pela informação. É preciso retomar a pausa e a calma e voltar a observar as coisas e desfrutar delas. A emoção está a ser esmagada pela informação. Conhecemos muito e não sentimos nada.”

Isidro Ferrer

Como já não dá para ver e sentir "ao vivo e a cores", faço o que me foi pedido no blogue onde me encontrei com este tempo de encanto: divulgo! Obrigada à Rita e ao Letra Pequena.

sábado, 14 de novembro de 2009

O que é que a promoção da leitura tem a ver com a escola?


Se faz frequentemente esta pergunta a si mesmo siga por aqui - aguçado fica o apetite para a leitura do texto integral com estes excertos:

(...) la promoción no es una forma de alejarse de los objetivos escolares, alivianarlos, o “desescolarizarlos” sino de darle nuevas formas y significados a las tareas de enseñanza.

(...) El peligro de llamar a la desescolarización de la lectura entonces estaría en la negación de la responsabilidad de la escuela de hacerse cargo de repensar la enseñanza y la búsqueda de nuevos caminos para que la lectura tenga otros significados en la vida de los lectores escolares.

Para vencer ese riesgo quizás el cruce entre los aportes interesantes provenientes del campo de la promoción y la resignificación de la idea de “escolar” —cargándola con sus mejores resonancias cuando se piensa en la lectura— sea un modo renovado de pensar la tarea de enseñar a leer.
Cecilia Bajour

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Dançando com a diferença



Veja um pouco mais aqui! Se gostar, leia e aprofunde por aqui!

Fui.
Vi.
Senti.
Chorei e ri. Também sorri.
Da minha cadeira, na plateia, também dancei.

Muito forte.
Muito envolvente.
Muito questionador.

Quem somos nós no nosso corpo?
O corpo que nos tapa e nos desvenda...
O corpo que nos aprisiona e nos liberta, o corpo que nos faz ser quem somos, o corpo pelo qual podemos ultrapassar-nos à procura de SER mais e viver uma VIDA PLENA.
O corpo que nos faz aprender a "estar aqui", o corpo que nos ensina a "estar BEM aqui".

Ainda bem que este projecto tem sede na Madeira!
Porque Portugal não é só Lisboa...

Que pena que este projecto esteja na Madeira... Porque a minha filha, de 19 anos, portadora de trissomia 21, acabado o seu percurso escolar, está em casa. Em stand by... Como que numa antecâmara para coisa nenhuma... E será só ela?

E hoje eu vi, claramente visto, que este projecto não é para "fazer-de-conta" que não se é portador de deficiência, "fazer-de-conta" que se faz formação profissional, "fazer-de-conta" que se promove a inserção social...

Este projecto é para viver a condição da diferença com plenitude, com liberdade e com a dignidade de se ser, acima de tudo, PESSOA!

Parabéns a Henrique Amoedo e a toda a Companhia!

Pergunto-me: será que não há ninguém que tenha interesse em fazer acontecer (pelo menos) um projecto destes aqui pelo continente?

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

«(…) porque o outro não é uma "obra minha"…»


Como é bom ler, clara e lucidamente escrito – e proactivamente explicado, pela Professora Isabel Batista – este alicerce de toda e qualquer postura educativa, pilar fundamental de reflexão para quem se apresenta (ou pretenda apresentar-se) como educador!

Ficou para mim tão claro que, à partida, ninguém que se diga e se posicione como educador o pode SER (e portanto EXERCER plenamente) se não tiver a coragem quotidiana de se apresentar a si próprio, ou seja, de aferir diária e recorrentemente para consigo mesmo – e, por consequência, em renovada, persistente e desassombrada partilha com os outros – a matriz da sua acção educativa neste referencial, assim enquadrado:

Mais que reconhecer-se imperfeito, assumir-se antes como alguém capaz de se aperfeiçoar, por isso, com a intrínseca possibilidade de melhorar sempre, e de, por isso, olhar os outros, alunos e interlocutores, como viajantes dessa mesma viagem de perfectibilidade na aprendizagem ao longo da vida;

O de considerar o pressuposto de que é – e por isso TODO O OUTRO com quem se cruza na vida também – indelevelmente educável, seja qual for a sua condição e os seus eventuais “condicionalismos” – por isso, constante e estruturalmente aprendente ao longo de todo o seu percurso de vida…

O de inequivocamente, aprender a aceitar o negativo da educabilidade, ou seja, citando Isabel Batista, garantir nas suas práticas e posicionamentos «o princípio de que a educabilidade não pode ser exercida influenciando o percurso do outro a qualquer custo, porque o outro não é uma "obra minha"».

Perante este convite a uma postura reflexiva e colaborativa, na perseguição de melhores formas de sermos educadores e co-construirmos os percursos educativos que nos cabe desenhar, pergunto-me porque é que cada vez menos encontramos e fazemos por construir na escola os espaços para fazer esta reflexão, esta partilha e esta co-construção… Estaremos realmente dispostos a persistente e aprofundadamente aprender, ou a descansadamente fazer o que é suposto que façamos para que a escola continue, paulatinamente, a formatar-nos para “fazer sem pensar”?


Concluo citando esta passagem de um dos blogues por onde gosto de esvoaçar, e cuja mensagem aconselho a ler na sua totalidade.

(…) independentemente do quadro legal, institucional, de crenças e valores profissionais, falar de ética e deontologia é também falar de mim, do EU e da minha relação com os outros e, sobretudo, predisponibilizar-me para a crítica, para a melhoria e para o crescimento individual.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Parece tão simples...


Quando se fala em biblioteca escolar, é inevitável pensar nos hábitos de leitura dos alunos.
Formar bons leitores significa encantar as crianças, enfeitiçá-las com o poder que vem dos livros.

Mas isso não se forja com obrigações, muito menos com trabalhos sistemáticos de compreensão de texto. (...) a leitura é sempre um meio, nunca um fim.

Por isso, na escola ela deve ter várias funções, pois é diferente
ler para se divertir,
ler para escrever,
ler para estudar,
ler para descobrir algo que deve ser feito etc.

(...) que o acervo da biblioteca seja variado,
que nos momentos de leitura livre o professor leia junto com a turma
e que os alunos também possam, em alguns momentos, escolher as próprias leituras
e levar os títulos para casa.
                                                                                                  

Parece tão evidente que nem vale a pena ser reforçado? Ou será que sim?
 
Quando equaciono o peso que damos, no quotidiano (e que permitimos que os nossos alunos possam experimentar pela nossa mediação), à "leitura-estudo-obrigação" face à "leitura-fruição", à "leitura-desafio", capaz de nos mobilizar todos, completamente, de algum forma mudando a pessoa que somos e fazendo-nos olhar a vida com outras sensibilidades... Penso que teríamos que rever algumas coisas e humildemente aceitar que muitas vezes não confiamos o suficiente nessa força da leitura como tal e acabamos por manchar de excessiva e sensaborona "não comunicação" (para não lhe chamar outras coisas porventura mais atrevidamente provocadoras...) os espaços de leitura que, cheios de boas intenções, criamos na escola para os nossos alunos... 
 
A pergunta (fundamental?) que me apetece pôr é: com esta atitude de preponderante "doutrinação" face a outras possíveis - que deveríamos constantemente perseguir, experimentar e partilhar - de colaboração, de cumplicidade, de envolvimento, estaremos a incentivar para a leitura ou a desmotivar para ela as nossas crianças e jovens?

terça-feira, 3 de novembro de 2009

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Ouvir e contar... contar e ouvir: renovada magia!

  


Olá, amiguinhos da JI/EB1 da Póvoa da Galega,

Obrigada pela oportunidade do reencontro e da partilha.

Mais uma vez aconteceu para nós um espaço de comunicação à volta dos livros e do contar as histórias que eles nos põem no colo, porque conseguimos provocar, no nosso dia tão apressado e cheio de obrigações, a "obrigação" de estender um tapete de calma, para poder, juntos, ouvir e contar, ouvir e comentar, ouvir e enternecer-nos, ouvir e rir a bandeiras despregadas, ouvir e surpreendermo-nos...

Aconteceu uma fiada de histórias.

Que bom!

Alguns dos livros que se abriram e nos envolveram neste dia:

















                                

                                                                                                                                                                                                                                                                  

Para quem estiver interessado, ver neste blogue, na BARRA AZUL (lateral direita), mais informação sobre estes títulos.

domingo, 1 de novembro de 2009

Quando uma história acontece...

... um espaço/tempo de cumplicidade se tece!

Aos meninos da EB1/JI de Santo Estêvão das Galés envio um beijinho - encontrámo-nos pela primeira vez, nesta bela manhã, à volta das histórias e, por via delas, ficámos a partilhar aventuras, peripécias, formas de olhar e de revisitar as nossas experiências de vida que, mesmo aos três anos (que era a idade do nosso público mais novinho), não são menos significativas: são as nossas, fazem parte da nossa história de vida e, por isso, são essenciais!


Para quem estiver interessado, ver neste blogue, na BARRA AZUL (lateral direita), mais informação sobre estes títulos.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Mas afinal... ler "serve" para quê?



Ler: gostar ou não gostar de ler...

Ler: tem a ver com...

Ler: é fundamental, imprescindível porque...

Ler: deve promover-se a leitura...

E que tal juntar ao panorama, sem dúvida sempre urgente e necessário, de identificar, perseguir e concretizar renovadas formas de incentivar a leitura, uma história como esta?

Para mim foi inspiradora.
Convido-vos a experimentar (mais) esta leitura! :)

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

"Vieste...



 ... pôr-me o dia a sorrir!"

Ofereceram-me hoje esta frase. Levantei voo nas palavras, deixei-me abrir as asas e planar, e agora que aterrei, preciso de escrever...

Pela palavra podemos ter a experiência viva do que é trocar emoções, tocar sem fazer falta tocar, envolver o outro num abraço sem aperto de braços, contudo poderoso e libertador, o outro connosco e nós com ele, experimentamos o que é comunhão e, inevitavelmente, ganhámos, nesses segundos em que a frase se soltou, mais uma pedra mágica para juntar aos tesouros que ao longo da vida coleccionamos, sobre esta misteriosa condição que nos assiste, a de não poder ser sem trocar o que somos com o outro.

Ainda bem!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Era uma vez... e já foi!





Um encontro.

De olhares...
De risos...
De palavras...
De sons... e de gestos... e de expressões... e de brincares...

De "gente crescida" e de "gente miúda", com a Poesia de permeio.

Era uma vez... um encontro que foi.
Um dia.
Numa escola.
Na Enxara do Bispo.

Porque ler, brincar com as palavras e ficar juntos a dizê-las e a ouvi-las, a dizê-las e a repeti-las, a dizê-las, juntos pelo ritmo e pela cor que elas nos devolvem, não tem idade, é próprio de quem procura saber de si, de quem viaja pela vida com a vida às voltas "cá dentro", é próprio de ser pessoa.

Qualquer dia volto lá, ficou prometido! :)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Hoje tive uma prenda: na verdade foi...


... um convite especial: obrigada, Pedro!

Hoje estive a ouvir contar histórias da tradição oral portuguesa. Aqui, na Biblioteca Escolar A Casa do Folhas.

Ouvir contar é sempre um privilégio. É participar de um tempo e um espaço de intemporalidade que vão ficando palpáveis, consistentes e animados de vida à medida que o contar acontece. É sentir a tradição viva e desafiadora, nas nossas vidas do "aqui" e do "agora". É perceber que as histórias nos falam e nos interpelam porque são contadas e quando as ouvimos, ah! como passam a fazer parte da nossa respiração, das nossas emoções e dos nossos afectos... somos "tocados".

É especial aquele tempinho de expectativa, em que se olha para aquela pessoa que esconde em si tesouros inesgotáveis, que será que vai contar? e que está, ali, simplesmente sentada à nossa frente, esperando que entrem todos os meninos e as meninas, que se acomodem... esperando pelo tempo certo para a história começar a acontecer para todos nós que ali estamos.

E depois já está, o som da voz já se abriu para nós, as palavras dançam, vivas, ocupando todo o ambiente, saídas da boca do contador, e também do olhar e dos braços e dos gestos e da voz, de novo e sempre a voz que nos preenche o ouvido e que constrói para nós um aconchego de enredos e de recontos da vida... e de repente no meio de nós vive a raposa faminta com os três filhotes para alimentar, e o canto do pequeno rouxinol, feito assobio, a voz transformou-se em assobio e, suave e transparente, ecoa por toda a biblioteca, é mesmo um passarito a cantar, mesmo que eu nunca tenha ouvido nenhum com ouvidos de ouvir...

E como é gostoso e poderoso o riso de todos nós, que se solta porque o homem quer que o burro carregado de cestos de sardinhas ande, e não percebe que de facto o burro, de início renitente em lhe obedecer, trota agora cada vez com mais vivacidade porque a raposa matreira vai lançando as sardinhas, às patadas, uma a uma, para fora do cesto: o burro, sentindo-se mais leve, avança no caminho, para gosto do dono, enquanto que as sardinhas vão sendo atiradas para trás, deixando o cesto vazio...

E o contador continua, e estamos todos irremediavelmente agarrados, desde os meninos de 3 anos até eu, de 53... Todos mergulhados na magia da história contada, todos ligados à surpresa do som, do gesto e da voz que queremos, que precisamos, completamente, de ouvir, durante o tempo em que o conto acontece...

Obrigada, Fontinha.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Vê se me vais dizendo de ti, preciso… tanto como contar-te de mim…


Estas palavras, dirigidas a alguém especial, são raízes de tanto, nesta aventura da comunicação!
São dádivas e apelos...
São pedidos e ofertas...
São trocas...

São esconder-se e revelar-se, no jogo mágico que jogamos desde sempre, pois dele dependemos para ir crescendo, desenvolvendo e maturando, nas nossas capacidades e potencialidades de seres multifacetados e eternamente incompletos...

São "saber de mim" e "saber de ti", "ir ao teu encontro" e "deixar que venhas ao meu" e fruir da comunicação que aprendemos a fazer e a aprimorar neste processo... E utilizar todas essas "ferramentas" como forma de ir encontrando o nosso cantinho no mundo, não para nos escondermos nele, sim para nos ancorarmos nele e daí voarmos ininterruptamente, à procura de novos encontros e maiores experiências de humanidade...

E as histórias, o lê-las, o contá-las e o vivê-las, envolvidos nelas com outros, são uma oportunidade de, cada vez que um conto acontece, nos re-fazermos por dentro e nos re-olharmos, também por fora e "no espelho" dos outros.

Que haja tempo para o tempo de uma história na vida de cada um de nós. Em cada dia. Porque esta é uma (pequena?) garantia de que continuaremos a ouvir-nos e a ouvir os outros...

domingo, 4 de outubro de 2009

Acordar no tapete...


Acordo e interiormente estendo o tapete.
Vem aí um novo dia, vem… ou está, aqui, entretecido no tapete, fazendo de mim viajante, as minhas energias agora acordadas (fingindo dormir, mas definitivamente acordadas), é assim que vou aprendendo o presente.

Vejo-me passeando nele, o meu tapete-dia, pequenina forma de gente numa imensidão de volumes, formas, cores e desafios. Sinto-me vagamente apreensiva, não sei como vai ser o passo a seguir. Mas a luz que invade o espaço onde acordo – será o quarto, os lençóis da cama ou a vastidão do tapete que se desenrola dentro de mim – inunda-me de urgência, e com ela dissolvo as incertezas, os medos, as angústias liquefazem-se no copo de água que bebo.

Faço, já fora da cama, os gestos de avançar no novo dia, sinto-me vertical e lutadora e mais uma vez reaprendo a confiar. E a cada manhã me (re)conto esta interminável história de acordar…

Normalmente recomendam histórias para o deitar… Mas como seria o meu acordar sem a história como companhia?

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Voos nocturnos


No silêncio da noite e da casa, estou acordada e escrevo-te. Apenas umas palavras breves. Apenas um desenhar de asa, um arco de sombra ténue no som da noite. Apenas um sentir que estou aqui, viva e sonolenta, contudo atenta à necessidade de dizer.
Que sim.
Que não.
Que às vezes sei e muitas vezes nem por isso.
Que teimo em saber de mim e partilhar essa que sou.

E que as histórias, essas eternas feiticeiras da vida, me ajudam a encontrar caminhos para essa partilha, me fazem “andar a troca-passo” com os outros, me levantam do chão quando é difícil caminhar...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Contar uma história é uma oportunidade única para...

... fazer os dias bonitos!

À Leonor e às meninas e meninos da Sala Encarnada do JI da Póvoa da Galega o meu obrigada pela hora que passámos juntos, à volta de uma história, muito bem guardadinha num livro que, a pouco e pouco, se abriu para todos nós!


Se quiserem espreitem aqui mais "qualquer coisa"!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Silêncios e olhares


Sim, precisamos de silêncios.
Sim, precisamos de olhar, de repousar o olhar, de aprender a ver...

"Se podes olhar, vê, se podes ver, repara". Saramago apresenta-nos o seu Ensaio sobre a cegueira com este conselho... de cada vez que pego a obra para retomar a leitura, a frase do Livro dos Conselhos faz-me re-parar.

E quando vou contar, quando me encontro perante o livro da história que vou contar, ao mesmo tempo que o seguro e o sinto, ao abri-lo (pre)vejo que, pela história que se desenvolverá, pela voz que soltarei, pelo olhar que conseguir deixar pousar em quem me vai ouvir... aí, estaremos todos envolvidos, nesse tempo e espaço em que os silêncios, os olhares, o que vemos e como vemos nos fazem "crescer por dentro", experimentar essas ferramentas da comunicação, da expressividade e do imaginário que fazem de nós estes "bichos-únicos", comunicadores sempre incompletos, sempre aprendentes de novas simbologias e formas de expressão...

A partilha de uma história é sempre uma experiência de vida!

Ainda bem!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

E-books...

Antes de formar opinião, ter ou não ter razão, recusar a inovação ou até apelidá-la, cheios de indignação, de qualquer coisa depreciativa e vazia de emoção... convém aceder a alguma informação... Aqui vai o meu contributo.

e-books

artigo de Susan Hayes

"El libro vivirá... en el formato que sea" Fernando Savater

Transcrevendo Savater: (...) "el libro y su mundo están ante un cambio, pero no necesariamente ante una catástrofe".

domingo, 13 de setembro de 2009

"Um tapete, que se falar, conta-nos...

... muito mais do que alguma vez soubemos de nós próprios...
...e se for voador, leva-nos num mundo inimaginável de aventura, sedução, reflexão e paz".

Esta frase também não é minha, mas foi-me oferecida por um amigo especial.

E resume (como ele há muito que sabe...) muitas das razões que me levam a gostar de contar histórias e que me fizeram decidir a enveredar por este caminho!

Neste espaço irei contando as minhas aventuras e desventuras, irei contando porque sei que as contarei também (ou primeiro) para mim própria e que será mais uma forma de me encontrar e de me deixar abraçar pelas surpresas da vida.

sábado, 12 de setembro de 2009

"Os livros são a minha forma de voar"


Esta frase não é minha, mas podia ser.

Ouvi-a hoje da minha interlocutora, fim da tarde, sentadas a bebericar café com leite, enquanto esperávamos que os respectivos filhos regressassem do passeio de grupo a Tomar.

Ouvi a frase e vi a cara, ouvi a voz, senti o olhar... era voo mesmo.

E senti-me feliz porque captei o momento, porque foi para mim que as palavras se soltaram, porque também eu apanhei a boleia daquele voo. E de repente, ali sentada, transportei-me à manhã de hoje, quando o vi, e lhe peguei e o li em oblíquo, e tive de trazer comigo aquele livro. Um fio atou os dois momentos e assim, ligou o meu dia. Ali, esticado, ao alcance do meu tacto, encontrei-lhe o sentido.

E percebo que chegou agora o momento de o apresentar, ao livro, o primeiro que me irá tirar os pés do chão, na aventura do voo, nesta vontade de voar em tapetes...
O livro que vai ser "atapetado", que me vai oferecer a história para desvendar, para que me inicie na tarefa de (re)construir - na trama do tecido, do mergulho nas cores e texturas e na viagem pelo movimento de tocar, mexer, manejar - a fidelidade ao texto, à mensagem e ao encanto do contar...

Chama-se: O dono de tudo. De Orlando Strecht-Ribeiro e António Almeida, com ilustrações de Nadine Mesquita, publicado por Livros Horizonte, 2006. Sinopse: Tudo se torna mais bonito quando se divide com os outros, quando é partilhado. Podemos ter coisas só nossas, está claro, mas outras...
A Natureza não é excepção. Tudo nela faz mais sentido quando está em harmonia, tudo se relaciona com tudo e todos, as coisas mais pequenas e as maiores. Contrariar este equlíbrio ou lutar para o desfazer serve apenas para desperdiçar energias e enfraquecer quem o tenta.
Por que será que o Homem levou tanto tempo para entender isto?

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Um tapete sem uso...

Não é bem um tapete, é um pedaço inerte de coisa nenhuma!

Por isso, para que tudo se inicie antes que haja tempo para hesitações, retrocessos ou desânimos, tenho na mão um pedacinho de trapo... Será com ele que tudo ganhará forma...

E um dia, ou melhor, a cada dia - principalmente naqueles em que temos em nós diabretes à solta, que nos querem convencer que sabemos tudo e fazemos melhor que ninguém... - esse trapinho lembrar-me-à da minha condição de constante aprendiz, e ajudar-me-à, acima de tudo, a ser eu, simplesmente, a sorrir às dúvidas, a pedir ajuda nas dificuldades, a experimentar com persistência, a fazer de peito aberto e a nunca querer estar sozinha nas coisas... e por isso, para, na prática, começar a fazer o que aqui acabei de dizer, pergunto:

Alguém me quer dar sugestões de histórias para "agarrar" e "atapetar"? Preferiria começar em português... fico à espera...

Agora: estender o tapete

Explicar o tapete.
Faz sentido.
É preciso.

Na verdade o tapete serão muitos tapetes...

Na verdade ainda não existe nem o primeiro... a não ser no sonho.

E por isso já lá está o tapete primeiro: o projecto.

De construir tapetes...

De construir tapetes de histórias.

Que não serão nem os primeiros, nem os últimos. Serão apenas os meus e os de todos aqueles que voarem comigo pelas histórias que juntos fizermos acontecer.

Voar...


Sempre me fascinou, voar sempre me fascinou...

Mas voar, voar mesmo como a águia, a gaivota, a cegonha - nunca por nunca voar de avião, já de balão seria outro encanto...

Voar e planar, voar no voo picado e perfeitamente alucinante do falcão direito àquele coelho desprevenido, voar subindo inebriada de azul...

Voar na vida. Voar nos sonhos e nos projectos.

Voar por dentro.

É por isso que este blogue nasceu hoje.