quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Encontro ao sol

Foto: HenriqueSantos
Vou ao teu encontro
e sei que o abraço está lá
o olhar agasalha-me
como aquele casaco
velhinho, poído, íntimo, único
que espera por mim
(desde sempre, é como o sinto)
nas costas da cadeira
(em casa, claro)
e me envolve como mais nenhum...
E então
sinto a minha boca sorrir-te sozinha,
independente da minha vontade
e essa curvatura desenhada em felicidade
tem o sal do mar
o gosto a terra
e a capacidade
de me pôr o sol no coração.

terça-feira, 22 de março de 2011

PRIMAVERA

Matisse, Dança
É o tempo a florir
É a flor a sorrir
É o riso a colorir
É a cor a pincelar
É o pincel na pintura a voar
É o voo do pássaro - e o meu!
em pleno ar, em completo amar!

segunda-feira, 21 de março de 2011

PAI

Com a ajuda de umas "palavrinhas mágicas" de uma das salas de jardim-de-infância (Sala Encarnada) da escola onde trabalho como animadora da biblioteca escolar, surgiu esta homenagem ao PAI que existe em cada homem que se queira deixar homenagear... :)

As palavras que os meninos encontraram para dizer PAI:
Wordle: dia do pai

O escrito que aconteceu:

PAI
(A partir das palavras da Sala Encarnada)

Ó pai, querido amigo,
(trabalhador incansável para que eu tenha tudo)
adoro quando me deixas ser
teu ajudante: quando dizes
que és tu o cozinheiro do jantar
e me deixas experimentar…
É doce
o sabor de estar perto de ti
e de te ter aqui, feliz, a brincar comigo!

Às vezes imagino-te pássaro, talvez pomba,
e lá do alto do telhado do nosso prédio,
onde subimos os dois numa corrida,
lanças-te no ar e eu rio
num voo louco às tuas cavalitas,
e faço piu-piu aos quatro ventos!

Gosto de te ver bailarino,
pegar na mãe e fazê-la dançar,
pareces uma estrela a brilhar, a brilhar
no meio da música a tocar… e a mãe ri,
de olhos fechados, embalada por ti…

Às vezes
transformas-te num “monstro martelador”,
e fazes um barulho irritante
a pôr pregos nas paredes
– principalmente porque a mim não me deixas martelar…

Gosto
quando me chamas para o sofá
e me pões no teu colo fofinho, confortável
e falas comigo ou me contas uma história…

Às vezes também fico à espera que me ergas no ar,
quando te dá aquela vontade de me pegar
como se eu fosse uma pena,
gosto de sentir a tua força boa
e de ficar de pernas para o ar.

E de repente
dás-me aquele beijo amoroso à hora de deitar,
que me ajuda a adormecer pela tua mão
e a saber que vou sonhar,
e ser mergulhador de sonhos fantásticos!...

Amo-te, pai.

sábado, 12 de março de 2011

VOOS DE FADA...

Fada do Natal dormindo - madeira viva

Há uma fada adormecida em mim, numa presença suave, quase imperceptível...

Em dias em que no ar se adivinham sons de campainhas
Em manhãs em que se acorda numa vontade inexplicável de soltar a voz como um pio de gaivota
Em tardes em que se chora de comoção porque aquele pôr-do-sol dói numa dor consoladora e redentora por dentro das fibras que nos fazem ser assim
Em noites em que o veludo misterioso nos envolve e nos fala na pele palavras inebriantes

Ela, a minha fada adormecida, acorda!...

quarta-feira, 9 de março de 2011

Olhando o céu - madeira viva

O céu é meu
O céu é teu
O céu é dele mesmo.

Lá está ele por cima de todos
Por cima de mim
Por cima de ti.

Será que há céu
por cima do céu?

terça-feira, 8 de março de 2011

TANGO



Sem palavras!
A magia, a elegância, o envolvimento do TANGO.
E, neste caso, um sentido de humor inspirado e completamente sedutor... como é sempre sedutora e empolgante a experiência de dançar ou de ver dançar tango... (que saudades!).

segunda-feira, 7 de março de 2011

CONFORTO

Foto: Henrique Santos


Chegavas…
A tua mão a acenar no ar
dizia-me “conforto”!
– Chegou o meu porto – pensei,
num suspiro abrigado. – Porto de abrigo, é onde fico, contigo.
Preparei-me. Antegozei a conversa amiga, cheia, liberta.
Estou pronta, ou melhor, sedenta:
Sento-me
à sombra da tua voz.
Olho
através do teu olhar.
Penso e digo e oiço
as coisas que vêm colocar-se para serem ditas…
É bom estar aqui.

Depois…
Em cada dia
invento como apagar a tua ausência: pinto no ar
um pulo de pássaro lançado em voo, lá do alto, asas abertas
e nesse voo risco o vazio com movimento.
Em cada dia a sós comigo
agradeço
a construção em mim da tua presença: adereço de amizade
sem preço…
de olhos abertos
recolho o olhar e sinto-te pousar
em quietude
num canto de mim.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Sou



Entre mim e a Primavera

um caminho de terras húmidas da última chuvada,
um apelo verde,
uma fugida de lebre vislumbrada em felpudos cinzas…

Sou
deslumbrada de sol
um canto
de pássaro sem nome
chilreia-me no espaço entre a alma e o corpo…

Sinto-me erguer,
sou capaz de derrotar a tristeza,
sou um sorriso sem fim que me sai dos poros,
que me seca o choro,
que me pega na mão.

Sou o chão.
Sou água.
Sou.

quarta-feira, 2 de março de 2011

TARDE

Turner: Pôr-do-sol sobre um lago


No dourado da tarde
vejo
o teu olhar que me oferece
o verde
imenso
dos campos
Na tua voz
percebo
o som da luz do sol
que me enche o horizonte de poeiras douradas
Instante em que consigo ser feliz
dizer por dentro de mim
Paz, como se mastigasse aquele pão gostoso que me ofereces
do outro lado da mesa
num gesto
completamente
transparente,
quente
do forno desse pão.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Ah! A Música!

FORMA DE OLHAR



Navego no teu olhar.
Abrigo antigo, amigo.
Faço-me novelo.

Enrosco-me na frescura verde de prados…
Encanta-me o brilho.
Embala-me a expressão.

Envolvem-me matizes de cor,
verdes, castanhos, dourados...

Dissolvo-me, encontro-me.
São cheiros de terra lavrada,
os teus olhos, são!

Terra em torrão
acolhedora,
geradora: onde pode nascer grão.
No teu olhar passeio-me, amparada,
pressinto-lhe o ondular de campos de trigo...

Olho e vejo: lonjuras, imensidão sem par…
Navego no teu olhar…

Foto: Henrique Santos

PAPOILA




















Se uma papoila dançasse para mim,
seria tango.
Movimento para além dos nomes,
passos
com o poder de quedas de água,
abraço
mais envolvente que pele,
pés
em desenho quente pelo chão fora.

E o corpo dança,
leve e sedutor,
como o ar e o fogo
rodando e atravessando a música,
papoilas vermelhas de emoção
e o tango,
e os passos,
o abraço
em dança leve de chama…

A labareda de dançar
porque não de pode parar.

Como papoilas
no campo
a voltear.

Foto: Henrique Santos

quarta-feira, 21 de julho de 2010

ENTARDECER


Tecer o fim da tarde.
Entontecer de luz.
Beber a dissolução do sol
pelo olhar…
Afagar cabelos de erva.
Sentir marulhar a tarde
na liquidez em brasa...
Mansamente mar.

Foto: Henrique Santos

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Solidão














       






Está em mim
um tempo de silêncio
em peso de montanha.
Solidão instalada.

Paira esta atmosfera pesada,
tórrida de opressão
como a cor crua do sol
na planura, à hora do calor.
Invade tudo,
toda a altura,
a largura
e a espessura dos dias.
Tudo o que na paisagem se alcança.

E eu também
ferozmente tisnada,
crestada,
em completa secura.
Experiência dura.

A solidão agarra-me,
carraça sugadora da cor dos dias.
Vivo um tempo
em que as palavras
não se abrem,
condensadas,
cada uma feita espessa bola de dor,
e espanto,
e interrogação sem par.
Foto: Henrique Santos

sexta-feira, 9 de julho de 2010

ASAS...

foto: http://escreveduras-da-raquel.blogspot.com/2010/01/amor-combate.html

"Não se esqueçam de escrever por dentro do peito: nós nascemos para ter asas."


E mesmo quando parece que não as sabemos abrir
que não descolamos do chão
que até sentimos os pés a afundar
num lodo nauseabundo
opressor
que nos engole para dentro da sua monstruosa papa amorfa...
As asas estão lá
fechemos os olhos
(mesmo que estejam enterrados no lodo fedorento)
e pelo lado de dentro do olhar
pela força do querer
pela capacidade de resistir
façamos abrir
façamos acontecer o ver-nos a abrir as asas
e, de repente,
ah! de repente estaremos a olhar o lodo de cima!
Em pleno voo!