sexta-feira, 30 de abril de 2010

Texturas... ou ternuras?




















Se um dia eu
precisasse de dizer
que o encantamento se personifica,
se um dia eu
precisasse de sussurrar
que a ternura se enche de infinitudes de emoção,
se um dia eu
precisasse de explicar a amizade,
se um dia eu
precisasse de dizer que o afecto
é um ser com vida própria,
se um dia eu
precisasse de lapidar as faces infinitas do amor,
se um dia eu
precisasse de rasgar o tecido
de que sou feita
(sentir-lhe o toque num afago de mão
e levá-lo até à porta da retrosaria)
só para ver bem as cores que tem à luz do sol,
pedia-te:
- Vem hoje às compras comigo, por favor!
Foto: Henrique Santos

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Colibri














Há um passarinho
chamado colibri.
Minúsculo, o colibri
abre o seu voo
por aqui e por ali.

As flores mais doces,
mais perfumadas,
são as que escolhe
sempre a voar
sem se cansar.

Bebe-lhes o néctar
por uma palhinha
que é o bico, fininho,
da avezinha.

Chamam-no as flores
com voz de segredo:
- Colibri, vem aqui…
- Colibri, vai ali…
E lá vai pelo ar o colibri!

Campos em flor




















Amigo de campos em flor
que rima com cor e dor e amor.
Amigo de verdes sem fim
de campos floridos de sol
salpicados de sonho
por dentro de mim.
És vento a tocar cada flor
em jeito de aragem,
em pleno calor,
que rima com cor e dor e amor.

Inundados de luz
embalados de sombra
conversamos, mudos
e dizemos tudo
sem abrir a boca.
O amigo e eu.
Um passeio.
Um sorriso.
Um voo de ave
que riscou o céu.
Repouso, tranquila penumbra.
Foto Henrique Santos

terça-feira, 20 de abril de 2010

A preguiça

















Há dias assim,
em que a preguiça toma conta de mim!
Começa logo de manhãzinha,
(ai que bem se está
no quente da caminha!)
Ando pela casa
tropeçando em sonhos…
Tenho a arte certa
de beber o leite ainda a dormir,
e abro um sorriso
de orelha a orelha
(meio estremunhado)
a quem mo pedir!

E digam lá: não é bem bom
um dia assim?
A gente fica
feliz da vida
a balançar, bem devagar
(como a tal preguiça)
para acordar...
E só mesmo nós
num dia assim, ao levantar
olhamos tudo
de pernas ao ar!

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Presenças




















Sempre gostei de árvores, de as olhar.

De longe, na paisagem, de perto, a cada uma a minha atenção.
São mágicas, são rochas vivas de uma energia permanente, que se manifesta num tempo para além do tempo: num tempo mais longo que o meu.

Árvores.
Gosto de ficar por perto.
Cheirar o ar que as circunda.
Ouvir mil rumorejos, ver o sol bailar em cada folha uma dança única de luz. Tantos verdes, tantos tons, planos e planos de ramadas que quase tocam o céu.

Ficar cá em baixo, encostar ao tronco.
Ficar.
Permanecer.
Olhar para cima, as mãos percorrendo rugosidades e texturas, os olhos perscrutando a copa, mergulhando em verdes, voando cada vez mais para cima, lá onde as ramadas voam no céu azul.

Plátanos. Carvalhas. Pinheiros mansos.
Frescuras.
Proximidades.
Terra.

Gosto das árvores.
Foto: Henrique Santos

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Às vezes...















Às vezes somos (como) deuses.

Porque o sol brilha. E é para nós. Especialmente.

Porque a rocha está
e nos ampara as costas. Divinamente.

Porque a areia aconchega o nosso sentar
e cada grão tem a cor que deve ter,
e cada um diz o que quer mesmo dizer.

E a praia dá-nos licença, infinita licença de olhar.

Imensidão.

Mar.

Luz.

Vento.

Silêncio.

Palavra.

Solidão.

Companhia.

Porque vim hoje à praia contigo.
Por isso estive mais comigo.

Ah! E elas, as cadelas,
preencheram os interstícios do indizível.

Foto: Henrique Santos