domingo, 27 de dezembro de 2009


E o que eles dizem com os pés dá impressão de serem coisas aladas, cheias de sabedoria.
Carlos Drummond de Andrade
Ver o mundo de pernas para o ar.

Era uma frase irreverente, sem dúvida, mas ultimamente lera e ouvira frases como esta com uma frequência que as tornava quase banalidade. No entanto continuou atenta às palavras: para ver de pernas para o ar era mesmo preciso deixar voar os pés – deteve-se nesta consideração, invadida por uma súbita vontade de se descalçar, uma imagem de dança, movimento leve, solto, uma inxplicável alegria a crescer-lhe pela planta dos pés explodiu em gargalhada na boca.

Então percebeu: a primeira coisa alada que acontecia no mundo ao contrário era a repentina e espontânea possibilidade de se rir, completamente cheia de riso e por isso plenamente cheia da sabedoria do humor.

O resto do dia correu-lhe bem.

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