Carlos Drummond de Andrade
Ver o mundo de pernas para o ar. Era uma frase irreverente, sem dúvida, mas ultimamente lera e ouvira frases como esta com uma frequência que as tornava quase banalidade. No entanto continuou atenta às palavras: para ver de pernas para o ar era mesmo preciso deixar voar os pés – deteve-se nesta consideração, invadida por uma súbita vontade de se descalçar, uma imagem de dança, movimento leve, solto, uma inxplicável alegria a crescer-lhe pela planta dos pés explodiu em gargalhada na boca.
Então percebeu: a primeira coisa alada que acontecia no mundo ao contrário era a repentina e espontânea possibilidade de se rir, completamente cheia de riso e por isso plenamente cheia da sabedoria do humor.
O resto do dia correu-lhe bem.
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