quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Hoje tive uma prenda: na verdade foi...


... um convite especial: obrigada, Pedro!

Hoje estive a ouvir contar histórias da tradição oral portuguesa. Aqui, na Biblioteca Escolar A Casa do Folhas.

Ouvir contar é sempre um privilégio. É participar de um tempo e um espaço de intemporalidade que vão ficando palpáveis, consistentes e animados de vida à medida que o contar acontece. É sentir a tradição viva e desafiadora, nas nossas vidas do "aqui" e do "agora". É perceber que as histórias nos falam e nos interpelam porque são contadas e quando as ouvimos, ah! como passam a fazer parte da nossa respiração, das nossas emoções e dos nossos afectos... somos "tocados".

É especial aquele tempinho de expectativa, em que se olha para aquela pessoa que esconde em si tesouros inesgotáveis, que será que vai contar? e que está, ali, simplesmente sentada à nossa frente, esperando que entrem todos os meninos e as meninas, que se acomodem... esperando pelo tempo certo para a história começar a acontecer para todos nós que ali estamos.

E depois já está, o som da voz já se abriu para nós, as palavras dançam, vivas, ocupando todo o ambiente, saídas da boca do contador, e também do olhar e dos braços e dos gestos e da voz, de novo e sempre a voz que nos preenche o ouvido e que constrói para nós um aconchego de enredos e de recontos da vida... e de repente no meio de nós vive a raposa faminta com os três filhotes para alimentar, e o canto do pequeno rouxinol, feito assobio, a voz transformou-se em assobio e, suave e transparente, ecoa por toda a biblioteca, é mesmo um passarito a cantar, mesmo que eu nunca tenha ouvido nenhum com ouvidos de ouvir...

E como é gostoso e poderoso o riso de todos nós, que se solta porque o homem quer que o burro carregado de cestos de sardinhas ande, e não percebe que de facto o burro, de início renitente em lhe obedecer, trota agora cada vez com mais vivacidade porque a raposa matreira vai lançando as sardinhas, às patadas, uma a uma, para fora do cesto: o burro, sentindo-se mais leve, avança no caminho, para gosto do dono, enquanto que as sardinhas vão sendo atiradas para trás, deixando o cesto vazio...

E o contador continua, e estamos todos irremediavelmente agarrados, desde os meninos de 3 anos até eu, de 53... Todos mergulhados na magia da história contada, todos ligados à surpresa do som, do gesto e da voz que queremos, que precisamos, completamente, de ouvir, durante o tempo em que o conto acontece...

Obrigada, Fontinha.

1 comentário:

Pedro Moura disse...

Olá Ana
Eu é que te agradeço a visita.
O Fontinha é, sem dúvida, soberbo e tive o privilégio de ouvir sete ou oito histórias diferentes, sempre contadas com uma energia inesgotável e com o mesmo sucesso.